Resiliência: a pedra fundamental para enfrentar os problemas da vida


Emprestado da Física, o termo resiliência indica – em seu significado original – o nível de resistência de um material às pressões sofridas. No campo da Psicologia, o termo diz respeito ao modo como as pessoas respondem às frustrações diárias, em todos os níveis. Cada pessoa constrói, naturalmente, uma resiliência para lidar com esses problemas. As estratégias são aprendidas de diversas formas e não há um modelo ideal.
Mas é possível exercitar e aprender novas estratégias de resiliência, um sentimento que, de certa forma, é responsável pela sobrevivência da nossa espécie: cada indivíduo é naturalmente capaz de transpor os obstáculos que nos separam do que nos faz ficar em paz – e que alguns chamam de felicidade, um termo que beira à utopia muitas vezes.

“A resiliência nos ajuda a encontrar a liberdade, longe dos grilhões que outras pessoas, ou a sociedade, nos impõem. Mas é bom lembrar que ‘se libertar’ não quer dizer ‘fugir’, mas ‘fluir’. E esse fluir, de forma ideal, não é um sentimento de agressividade, mas que deve ajudar a construir algo positivo, sem impor às outras pessoas nossas vontades”, explica Elko Perissinotti, coordenador geral do Grupo Aberto de Resiliência do Hospital Dia do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Universidade de São Paulo (USP).

O especialista também afirma que a resiliência não deve ser vista como sinônimo de egoísmo, um sentimento que é necessário em certa quantidade, mas que em excesso sufoca a liberdade de outros indivíduos. “Viver do jeito que se quer é algo que necessita de muita elaboração: é saber desviar a energia destrutiva, comum ao nosso lado animal, para elaborar modelos construtivos que nos ajudem a transpor os obstáculos da vida”, diz.
Resiliência, explica Perissinotti, é reflexo do nível de empatia, altruísmo e capacidade ampla de amar do indivíduo. “É preciso se pôr no lugar dos outros para entendê-los. Sem essa capacidade de fantasiar não há desenvolvimento pessoal”, diz o pesquisador. Mas a fantasia não é delírio, ele alerta.

“O delírio é destrutivo. Veja, por exemplo, quantas pessoas deliram com o mito da ‘felicidade plena’ – que inunda as sessões de autoajuda em qualquer livraria – e destroem os pequenos momentos de felicidade e paz de espírito. E pior: destroem as pessoas ao redor, num sentimento egoísta intenso e na ilusão de que é possível viver uma felicidade solitária, sem os outros para complementá-los”, explica.

A resiliência, diz Perissinotti, nos ajuda a compreender isso: que a vida é um misto de coisas boas e coisas ruins. E nas horas ruins é preciso aprender a contornar os problemas – vencendo ou sendo vencido, mas não negando a existência – e continuando a viver, respondendo como adultos (mais resilientes) e não como crianças (naturalmente menos resilientes e mais egoístas, centradas em si).

A seguir, Elko Perissinotti, em entrevista , faz uma ampla explanação sobre a resiliência, termo que vem se tornando lugar-comum e perdendo a profundidade em discussões cada vez mais focadas no imediatismo e na ânsia que algumas pessoas têm em encontrar certo tipo de felicidade.

1. Em qual fase da vida a resiliência se desenvolve?

A resiliência nunca é um processo estático, está sempre em desenvolvimento dinâmico, um constructo que necessita ser analisado pelo seu viés filogenético (nossos ancestrais da escalada evolucionista) e ontogenético (desde a formação do feto, na gravidez). Portanto, é na infância que se instalam nossos potenciais resilientes latentes e que começam a se desenvolver ou não.

A composição da genética com os vínculos microssociais (família) constitui o primeiro passo na estruturação e desenvolvimento de nossa personalidade. Participam também dessa composição a escolinha que a criança frequenta, os amigos e vizinhos, a ordem social e econômica vigente em sua cidade, Estado, país e planeta. Esses potenciais resilientes podem ir se desenvolvendo num gradual crescente de habilidades contra o excessivo sofrimento e vulnerabilidade da condição humana ou podem se “atrofiar” e mesmo se extinguir.

Nada impede, porém, que o sujeito adulto, cujo potencial resiliente permaneceu latente – traumas, ausência de attachment (apego, bem-querer) –, queira desenvolvê-lo. Mas aí, necessitaria de supervisão ou treinamento ou um tipo de psicoterapia centrada na resiliência. Normalmente isso tem ficado sob os cuidados de psicólogos, psicoterapeutas e psicanalistas, mas não somente.

E isso implica, obrigatoriamente, mudanças de hábitos de vida, das relações humanas, do modo de pensar a vida e a existência, de uma revisão de direitos e deveres, de ataque e de defesa, enfim, uma madura e, sobretudo, corajosa forma de ser e de estar no mundo.

2. É o apoio ou a presença de pessoas próximas que contribui para a construção da resiliência? Qual a importância da família no processo?

Na primeira questão, falamos um pouco disso, mas, convém ressaltar, é o círculo familiar (pai e mãe) e o círculo de amizades (crianças e adultos) que serão o farol norteador para o desenvolvimento de habilidades de avaliação, enfrentamento, superação e adaptação inteligente diante das constantes adversidades endógenas e exógenas de nosso cotidiano, como talvez dissesse o eminente psiquiatra francês Boris Cyrulnik.

Amor, carinho,afeto, bem-querer e convivência direcionados para a liberdade, a independência e o crescimento pessoal (em oposição a um estilo de vida gradualmente dependente, autodestrutivo e infeliz para si e para os que consigo convivem) são circunstâncias decisivas no desenvolvimento do sujeito resiliente.

Muito se fala em pais e mães divorciados como se isso fosse um entrave. O que realmente importa é que esses pais não sejam inimigos; não deveriam ser, mas são, e isso é, de fato, um agravante de dimensões devastadoras. Certamente, esses casais nada sabem de resiliência, de liberdade, de felicidade (cuja plenitude simplesmente não existe para ninguém), de amor e desenvolvimento sadio dos filhos. Há uma questão de Educação e Cultura fundamental nisso tudo.

A virulência não está no divórcio, mas sim no rancor, na raiva, no ciúme, na inveja e nas projeções neuróticas descarregadas nos filhos. O psicanalista Jacques Lecomte diria que falta Elo (nas pessoas), Sentido (na vida) e Lei Simbólica (regras e limites, também para os adultos).

3. É possível desenvolvê-la na vida adulta?

Sim, como já foi dito, por meio de supervisão ou treinamento ou psicoterapia centrada em resiliência, a não ser que um alto grau de “atrofia” implicou extinção de potencial, e a vida do sujeito passa a ser muito semelhante à dos psicopatas (frieza afetiva e ausência de sentimentos de culpa), envolvendo muito sofrimento (às vezes, inconsciente) a si próprio e às pessoas de sua convivência.

4. Como as pessoas resilientes veem os problemas da vida? Elas se deixam vitimizar?

Ser resiliente é, sobretudo, tornar-se Sujeito de (e à) sua própria vida. É tornar-se pessoa. Nunca é sinônimo de invulnerabilidade, de pessoa superior, de politicamente correto, de “carneirinhos” vitimizados frente à malandragem e aos furiosos da vida, de resignados e covardes.

O resiliente é uma pessoa como qualquer outra, mas que procurou desenvolver sua habilidade e capacidade de amar, de trabalhar, de sublimar, de suportar as inúmeras diferenças entre as pessoas, de tolerância às frustrações, de compaixão, de empatia, de altruísmo, de busca da felicidade (mesmo sabendo que ela quase não existe), da independência e da liberdade pessoal e, acima de tudo, a sabedoria de não recuar em seus desejos, como sujeito desejante, durante toda a sua existência (e assim, ciente dos constantes riscos de enfrentamento de frustrações). Enfim, o resiliente também sofre com o peso da vida, a dor da alma e o mal-estar na civilização (Freud concordaria).

5. Como elas enfrentam o lado negativo das situações e das pessoas?

Convém lembrar que toda situação e toda pessoa tem o seu lado/momento negativo e o lado/momento positivo. O resiliente também, mas sabe disso! E por saber, busca orientação, apoio, “ombro amigo”, entendimento, proteção, estabilidade emocional para melhor avaliar uma crise (momento negativo) e sustentação mútua com seu interlocutor (que também é uma pessoa “de carne e osso”). Creio que Froma Walsh, da Universidade de Chicago, que fala disso quanto à organização empresarial, mutatis mutandis, não iria discordar.

Pelo fato de saber desta condição humana de lado/momento negativo da outra pessoa, o resiliente, não tendo cartilhas de intervenção em situações angustiantes ou de crise, agirá naturalmente com as características que possui, ou seja, com empatia, altruísmo, solidariedade, utilizando sempre o sábio provérbio de não fornecer o peixe, e sim ensinar a pescar.

Não vai fazer adjetivações (você não se esforça; o erro está em você) e nem condená-lo ao cadafalso com conceituações bizarras e grotescas sobre o certo, o errado e as verdades da vida. O resiliente se permite, sem culpas, postar-se ao lado ou afastar-se de certas situações ou pessoas negativas. Sempre é bom citarmos o psiquiatra britânico Michael Rutter, pioneiro da resiliência no campo psicossocial, quando frisa que podemos ser resilientes em inúmeras situações, mas não em todas.

6. As pessoas resilientes são mais egoístas? Como elas lidam com o coletivo e ao mesmo tempo conseguem ser independentes?

Somos todos egoístas… Sem exceções! (risos) Mesmo parecendo irônico ou ingênuo, o fato é que o egoísmo resiliente trará menores danos a seu concorrente. Então convém aprendermos mais sobre a natureza humana. E podemos começar com Freud, Teilhard de Chardin, Bertrand Russell e Boris Cyrulnik.

Coletividade e independência não se opõem; ambas mutuamente se constroem (ou se destroem) e estabelecem limites e regras, e isso é bom, mesmo que à custa de certo mal-estar civilizatório. Independência e liberdade totais não existem, e se existissem seriam extremamente devastadoras, com riscos à continuidade da espécie humana, daí a existência castradora e necessária da coletividade. O instinto (pulsão) da sobrevivência, portanto, é energia prima, ditatorial e imperativa.

O resiliente sabe disso, portanto, sabe de suas virtudes e de seus pecados. Mas sabe, também, das armadilhas do inimigo oculto e que se disfarça: o proprietário indébito e promotor de verdades absolutas atemporais. Em síntese, no coletivo – e temos de saber lidar muito bem com isso – ora poderemos ser colocados no lugar de algoz, ora no lugar de vítima, e uma nociva ambiguidade dependerá um pouco do regime da microcivilização onde você está inserido. “Jogo de cintura” talvez seja uma boa palavra de ordem.

7. A noção de projeto – projetar seu futuro, seus anseios – contribui para essa solução de problemas de forma resiliente?

Sim. Já dissemos sobre o sujeito desejante e a imperiosidade de continuar desejante, como sinônimo de Vida, posto que o desejo realizado e em si encerrado nos faz pensar no gozo lacaniano, que poderíamos extrapolar para um sinalizador de “fim de linha”, “estado terminal” ou, mais ainda, Fim (The End), de fato.

Jacques Lecomte, falando sobre resiliência, se refere a essa questão de projetos e anseios, quando considera fundamental a busca (criação) de um sentido singular para as coisas, as situações e a vida, sendo imprescindível encontrá-lo (criá-lo), e assim, “keep walking” (risos). Não há saída: sem esse sentido das coisas, permanecemos inertes, inaptos, ineptos, inseguros, impulsivos, compulsivos, pueris, agressivos, possessivos, ciumentos, invejosos, nocivos e maldosos; e nada mais de bom ou de bem.


Especialista dá o caminho das pedras para você mudar suas atitudes e se concentrar em mudar sua vida. Para melhor, claro!


1. Aprenda a perder

A vida é feita de escolhas. Sempre há, no mínimo, duas opções em uma situação. Mesmo que ambas sejam ruins, uma delas é a menos pior. Assuma-a!

2. Identifique seus objetivos na vida

Descubra o que quer alcançar em cada área de sua vida (profissional, amorosa, familiar, etc.) e trace metas possíveis para atingi-las.

3. Avalie e reavalie periodicamente suas expectativas

Tanto em relação a si mesmo quanto aos outros. Lembre-se: tudo na vida tem um tempo certo para você e, também, para todos aqueles que estão ao seu redor.

4. Aprenda a aceitar e fazer elogios

Não desconte seus pontos positivos. Ser modesto ou humilde não são sinônimos de se desmerecer.

5. Aprenda a dizer “não” sem culpa

É importante colocarmos limites aos outros e, principalmente, a nós mesmos.

6. Faça terapia

Aprenda a lidar com emoções difíceis na terapia de uma vez por todas e aumente cada vez mais a qualidade da sua vida. Lute sempre para ter uma vida boa.

7. Organize sua agenda profissional e pessoal

Identifique as suas prioridades e seja realista. Não se sabote colocando uma série de compromissos durante o dia que sabe que não conseguirá cumprir, a menos que queira se sentir improdutivo e ansioso todo dia.

8. Aprenda a delegar tarefas

Confie na capacidade das pessoas. Pergunte-se: “Será que o fato de os outros se desviarem o mínimo que seja do meu padrão é uma demonstração de que seus padrões são baixos ou não existem?”

9. Tolere as diferenças

Aprenda a tolerar o seu sentimento de raiva quando alguém age de maneira diversa da sua em uma situação. Pergunte-se: se todos agirmos da mesma forma, os problemas terão soluções novas? E lembre-se: “Qualquer um pode zangar-se – isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fácil” (Aristóteles).

10. Crie coragem para mudar

Identifique o que lhe causa estresse em seu dia a dia e faça mudanças. Se continuar fazendo o mesmo sempre, o que lhe faz pensar que terá outro resultado?

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Viviane Sampaio é psicóloga clínica.

e-mail: psicologavivianesampaio@yahoo.com.br

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Pais e filhos adotivos: o que interessa é estar em família
Casais que optam pela adoção precisam estar preparados para assumir responsabilidades em longo prazo e saber que os possíveis problemas enfrentados no futuro, muitas vezes, não dizem respeito às crianças adotadas, mas às circunstâncias as quais toda a família pode estar participando.
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“Esses casais, primeiramente, devem ter a certeza do que os leva ao ato de adoção. Diversos casais sabem exatamente o que querem, mas outra parte muitas vezes inicia um processo a partir de um sentimento de perda”, diz Sylvia van Enck, psicóloga clínica especialista em Terapia Familiar e de Casal. Entre esses sentimentos, explica, estão o fato de terem passado por uma tentativa de fertilização artificial malsucedida, a descoberta da esterilidade de um dos cônjuges ou mesmo a morte de um filho (e o desejo de não engravidar novamente).

“É importante que esses casais conversem sobre essas frustrações e tenham claros os motivos da adoção”, diz Sylvia. A psicóloga lembra que a adoção é mútua. Ambos, crianças e pais adotivos, se comprometem emocionalmente. A partir daí são uma família.

“E como em todas as famílias, existem problemas, sempre”, brinca Sylvia. O que pode acontecer, explica, é que muitas vezes alguns problemas simples ganham proporções mais dramáticas, pois a sensibilidade familiar é maior por conta da questão da adoção.

“Se a criança tem um problema na escola – coisa comum entre os adolescentes, por exemplo – os pais podem pensar que pode ser algo relacionado com o fato da criança ter sido adotada. Outras vezes o casal consegue finalmente engravidar e os gestos de ciúmes, que são normais na maioria das crianças, são interpretados como uma crise familiar de proporções catastróficas”, exemplifica Sylvia, e reforça “nem sempre é tudo isso.”

Mas existem crises que podem realmente trazer algo negativo para a relação familiar. “Existem casos em que o sentimento de rejeição que a criança sente é genuíno. Os pais podem não vencer uma resistência inicial de distância e acabarem não se tornando próximos, íntimos, daquela criança. Não se sentindo querida, ela acaba tornando-se agressiva e isso reforça essa distância, virando um círculo vicioso. Se não for quebrado, pode levar a uma situação insustentável para pais e filhos”, alerta a especialista.

Contar ou não contar?

Sylvia observa que muitos pais de crianças adotadas preferem não contar para os filhos sobre a adoção. Em diversos casos existe o medo, dos pais, de serem rejeitados. “Esses pais acham que se contarem, o filho adotivo pode querer ir atrás da família biológica e deixá-los para trás.”

Mas há famílias que têm motivos mais complexos. “O clichê ‘segredo de família’ é real”, diz Sylvia. “Alguns pais podem ter um histórico dramático, sofrido. Eles escondem o fato mais para se proteger do que necessariamente esconder ou prejudicar os filhos. Outras vezes eles acham que os filhos sofreriam mais ouvindo a verdade do que não contando. Nunca é por maldade.”

A psicóloga lembra, entretanto, que a verdade normalmente acaba aparecendo. E esse tipo de atitude pode ser vista, pelos filhos, como algo imperdoável. “Não dá pra achar que um segredo assim possa ser escondido para sempre. Qualquer problema de saúde dos pais ou do filho, uma briga em que alguém da família resolve falar algo ou fatores diversos e incontroláveis podem levar o indivíduo adotado a saber a verdade.”

Sylvia explica que as reações diferem de pessoa para pessoa, mas que todos passam por uma fase de negação e de revolta, com o sentimento nítido de terem sido criados num ambiente de mentiras. O processo de aceitação, nesses casos, é longo e dolorido. Os filhos adotados podem desenvolver atitudes agressivas e os pais, sentindo-se culpados, podem agir compensatoriamente, deixando de impor limites. Outras vezes pais ou filhos entram em um processo depressivo.

Claro que essas são situações extremas. De qualquer maneira, quando se chega nesse ponto, é necessário que a família procure um especialista, afirma Sylvia. É preciso sentar e conversar a respeito, resolver os problemas e ir em frente. E sempre lembrar que problemas, afinal, toda família tem.

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por Enio Rodrigo


A ciência da automotivação

Autoajuda é algo que você faz por si próprio, apesar de algumas pessoas apelarem para os livros de terceiros. Mas como se faz isso? É muito mais simples do que a maioria dos livros diz. Pesquisadores da Universidade de Illinois, nos EUA, indicam que a pessoas que mais se sentem automotivadas constantemente são aquelas que, quando se deparam com um problema, se perguntam “como resolvê-lo?” e não aquelas que afirmam “irei resolvê-lo”.
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Apesar dos best-sellers encontrados em todas as livrarias, escritos por diversos autores que se dizem pesquisadores especialistas na área (ostentando títulos diversos), há, entretanto, pouquíssima pesquisa realmente científica – feita com base em dados colhidos de indivíduos reais e analisados com cuidado, parcimônia e ponderação. Esse segmento específico de análise é o que os pesquisadores da área de Psicologia chamam de “análise do discurso interno”.

Esse “discurso interno” é o processo que experimentamos quando lemos um livro, por exemplo: ouvimos nesse momento uma voz, dentro de nossa cabeça, que faz uma leitura “em voz alta”. Esse mesmo discurso está presente quando fazemos escolhas ou mesmo quando pensamos sobre nossa vida.

Questionamentos são mais eficazes

O time de pesquisadores, liderado por Dolores Albarracin, Ibrahim Senay e Kenji Noguchi, acompanhou 50 indivíduos, aos quais era sugerido que pensassem durante alguns momentos a respeito da sequência de testes apresentados. Em um teste de anagramas – onde eram apresentadas diversas palavras que deveriam ser remanejadas para formar novas palavras – aqueles que, enquanto esperavam, já haviam começado a formular a solução do problema, tiveram um aproveitamento do teste bastante superior ao daqueles que haviam apenas se programado para fazer.

Em um segundo experimento, os participantes eram convidados a escrever duas sentenças similares, antes da execução da próxima tarefa: “eu farei.” (uma afirmação) e “eu farei?” (uma pergunta). Aqueles que haviam sido induzidos a escrever a segunda frase (de questionamento), novamente tiveram médias superiores.

Por que isso acontece? Os pesquisadores dizem que isso pode estar relacionado ao significado inconsciente do questionamento, ou seja, as pessoas que se faziam uma pergunta, de certa maneira, já estariam se preparando para resolver os testes, e, portanto, se automotivando para a ação.

A mesma sequência de frases (pergunta ou afirmação) também foi usada em um teste de longa retenção – quando a pessoa faz planos e após um tempo relata, aos pesquisadores, se os realizou. Os participantes foram convidados a formular um plano de exercícios. Novamente, aqueles que se perguntavam “quais exercícios farei?’, em vez de afirmar “farei exercícios”, mostraram maior “motivação intrínseca”, um resultado que foi mensurado por meio de testes psicológicos específicos.

Linguagem indica como as pessoas “atacam” um problema

“Nosso estudo focou como o estudo da linguagem – mesmo aquela voltada a nós mesmos – pode influenciar a autorregulação comportamental”, diz Albarracin, cujo trabalho foi publicado no periódico Psychological Science.

“Métodos experimentais estão nos ajudando a investigar o ‘discurso interno’ das pessoas, e como elas se comportam a partir disso”, afirma o pesquisador que indica que as implicações do estudo podem levar a novos métodos de análise cognitiva, social, desenvolvimento da psicologia, assim como apontar novos indicadores clínicos, educacionais e mesmo sobre temas ligados ao trabalho e automotivação.

“A ideia popular é de que ações baseadas em afirmações podem melhorar o modo como as pessoas atingem seus objetivos. Mas ao que parece, questionar o modo como se faz é um método muito mais eficaz. Esse trabalho indica as bases cognitivas de como a linguagem é uma janela potencial entre pensamentos e ações”, finaliza.

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com informações da University of Illinois at Urbana-Champaign


Pais e filhos: dicas para uma melhor comunicação em família


Ouvir e falar com os filhos são pontos cruciais para uma convivência saudável dentro de casa. Mas manter uma boa comunicação em família é uma arte que deve ser exercitada e, quando os filhos chegam à adolescência, isso pode se tornar um desafio. Abaixo, algumas dicas de como manter o bom hábito da comunicação familiar.

• Esteja sempre disponível. Reserve um tempo somente para eles durante o dia e nos finais de semana.

• Tenha em vista quais os melhores horários para conversar com seus filhos. Na hora de dormir, antes do jantar, no carro, por exemplo, podem ser boas oportunidades.

• Inicie as conversas, mas permita que eles falem sobre seu dia a dia. E deixe claro que você está ouvindo com interesse.

• Se você tem mais de um filho, faça planos para ficar um tempo com cada um, individualmente.

• Aprenda sobre os interesses do seu filho. Tente saber qual a música preferida dele, atividades mais prazerosas, esporte predileto, etc.

• Quando seus filhos começarem a falar de algo que os está preocupando, pare tudo e preste atenção.

• Demonstre interesse sobre o que ele fez durante o dia e quais os planos para a semana, mas não queira controlar o que ele faz e nem proíba nada sem antes mostrar por que determinada atividade pode não ser saudável para ele.

• Tente compreender os pontos de vista das crianças, mesmo que não concorde.

• Deixe-os completar seus pensamentos antes de interrompê-los em uma conversa.

• Quando tiver dúvidas sobre o que ele está tentando dizer, repita o que ouviu e peça para ele corrigi-lo.

• Responda às questões feitas pelos seus filhos de forma que fique bem claro o que você pensa. Lembre-se: eles são crianças (ou adolescentes). Nem sempre o que parece claro para você faz sentido para eles.

• Não reaja sem pensar. A forma como você responde a um questionamento ou ideia pode parecer violenta para eles.

• Expresse sua opinião sem descartar a opinião deles. E enfatize que é normal as pessoas não concordarem com tudo que as outras pessoas pensam.

• Não tente ter razão sempre.

• Tente compreender os sentimentos dos seus filhos durante uma conversa. Procurar entender o ponto de vista deles. É uma das mais poderoras formas de se estabelecer boa uma conexão (mesmo que, eventualmente, você não concorde com que está ouvindo ou com a opinião deles).

• Pergunte a eles o que precisam de você: um conselho, um diálogo descompromissado e/ou simplesmente ouvir os problemas são tipos de conversas totalmente diferentes.

• Crianças aprendem por imitação. Na maioria das vezes elas vão seguir seu exemplo ou seu conselho para lidar com os problemas.

• Conversar não é dar sermões, criticar ou ameaçar. Entenda que a forma como você diz as coisas pode ofendê-los.

• E lembre-se: crianças são espertas. Elas podem iniciar uma conversa sem descrever todo o problema para simplesmente ver sua reação inicial (e saber se devem ou não continuar a contar o que acontece na vida delas). Encorajá-las a continuar falando sobre suas vidas é um exercício que requer treino, paciência e compreensão.

Caso você esteja tendo dificuldades de comunicação com seus filhos e não esteja conseguindo vencer as barreiras que os separam de você, talvez seja hora de consultar um profissional de saúde mental. Um psicólogo pode apontar o real problema entre vocês dois. Mas tenha em mente o seguinte: se seu filho não conversa com você, nem sempre o problema pode ser dele, mas talvez seja você quem esteja precisando de ajuda.


Ver outras pessoas exercitando suas virtudes – especialmente ajudar outras pessoas – nos faz sentir melhor. Mas mesmo que essa emoção positiva, ou sentimento de “nobreza”, esteja presente ao nosso redor, isso seria o suficiente para nos convencer a fazer algo similar pelo bem do próximo? Muito provavelmente sim. Essa é a conclusão de uma pesquisa publicada no periódico Psychological Science.

Os “sentimentos nobres” seriam atitudes relacionadas a ajudar outras pessoas, conhecidas ou não, a resolverem seus problemas, independentemente de uma recompensa direta obtida pela ação. Ou seja, ao ajudar alguém, o indivíduo obteria um ganho intangível, possivelmente desenvolvendo uma autoimagem mais positiva.

Em um estudo conjunto, Simone Schnall, da Universidade de Cambridge, Jean Roper, da Universidade de Plymouth e Daniel Fessler, da Universidade da Califórnia, todas nos EUA, observaram o efeito dessa “nobreza dos sentimentos” no comportamento das pessoas: voluntários assistiam a diversos vídeos de curta duração, alguns com mensagens neutras, outros com mensagens de superação e ajuda ao próximo (incluindo cenas de programas televisivos populares, com edições dramáticas, em que prêmios, como casas, são distribuídos).

Os resultados revelaram que os participantes que haviam assistido a vídeos com cenas positivas se ofereciam mais prontamente para repetir a experiência de voluntariado, o que, de acordo com os pesquisadores, indicaria uma maior propensão a ajudar pessoas próximas. Em um segundo experimento, foi medido o quanto esses voluntários ajudariam a completar uma tarefa, mesmo se avisados de que seria trabalhosa e maçante. Novamente os indivíduos que haviam assistido a vídeos mais “nobres” foram mais solícitos do que outros grupos de voluntários.

“Ser expostos a alguma cena ou comportamento considerado socialmente ‘nobre’ pode motivar comportamentos de altruísmo e, potencialmente, promover um aumento do nível de comportamento pró-social entre as pessoas”, concluem os pesquisadores.


A maioria dos jovens, meninos, e, cada vez mais, as meninas, ficam bêbados em quase todas as festas de finais de semana. E a chance de colocarem suas vidas em risco, nestas ocasiões, é enorme. Pessoas extremamente inteligentes, antes da festa, podem, após alguns copos, tornarem-se completos idiotas e fazerem as maiores barbaridades.

O consumo de álcool entre os adolescentes tem crescido assustadoramente e começa cada vez mais cedo. Atualmente, no Brasil, aos redor dos 12 anos.

Diversas pesquisas sobre o assunto, das melhores universidades americanas e brasileiras, revelam que o álcool pode causar danos ao hipocampo e que o completo desenvolvimento do cérebro e, mais especificamente, do lóbulo frontal só ocorre ao final da adolescência (que pode ser até os 24 anos), e concluíram que os danos causados às células neuronais que estão sendo mortas ou lesadas a cada bebedeira vão trazer consequências graves no futuro.

Sim, o álcool pode lesar o cérebro: segundo as pesquisas da Universidade da Califórnia, adolescentes que haviam se embebedado pelo menos cem vezes (contando os finais de semana de festas, vemos que isso não é difícil de acontecer), dos 14 aos 16 anos, apresentaram pior desempenho em testes de memória e, ainda, um hipocampo menor do que os que não bebiam.

Isto quer dizer que o álcool pode, também, diminuir o tamanho do cérebro

Três milhões de adolescentes contraem doenças sexualmente transmissíveis a cada ano no mundo. Nos EUA, duas pessoas jovens contraem AIDS a cada hora. Aqui, os consultórios ficam repletos de meninas violentadas ou arrependidas de terem praticado sexo com estranhos, ou no mínimo, infectadas com o vírus HPV ou várias DSTs, após algumas festas, como no Carnaval, ou no Planeta Atlântida. E por quê? Corpo de bêbado não tem dono, diz o ditado.

Outra alarmante conclusão dos últimos estudos sobre o assunto também revelou que quase a metade dos adultos que começaram a beber antes dos 14 anos torna-se alcoolista. Entre os que iniciaram beber depois dos 21 anos, o percentual de dependência cai para apenas 9%. A formação completa do cérebro só acontece ao redor dos 21 anos.

Podemos pensar, então, que quem toma porres com menos de 21 anos estará lesando um cérebro em desenvolvimento, e, portanto, tenderá a ter um cérebro subdesenvolvido quando adulto.

Além disso, o álcool é a porta de entrada para as outras drogas: maconha, ecstasy, cocaína e o famoso crack. É fácil, estando alcoolizado, ser convencido por um pseudoamigo a experimentar qualquer uma destas drogas. Aí, é lesão cerebral na certa.

Algumas doenças mentais, como o transtorno bipolar, por exemplo, quando existe um histórico familiar e uma predisposição genética, podem vir a desenvolver-se com o abuso do álcool e das drogas.

Fico impressionada quando vejo alguns meninos e meninas completamente alcoolizados, voltando para casa de manhã, quando eu estou acordando. Onde estão os pais para ver isso? Ou será que, pior ainda, veem e acham que não há nenhum problema nisso? Ou será que têm receio de dizer alguns “nãos”?

Os pais têm o dever e o direito de impedir que seus filhos comecem a beber muito cedo e demais. Os jovens precisam, principalmente, de limites e orientação. Dar limite é cuidar. Dar limite é dar amor.

Proíba seu filho de beber antes da idade certa. Não ofereça bebida alcoólica para seu filho, não beba com ele, não patrocine as festas de aquecimento, nem nenhuma festa jovem regada a álcool em sua casa se seu filho ou filha é menor de 18 anos, ou você poderá ser um pai ou mãe falicida.

Ajude seu filho ou filha a ter coragem de chegar em uma festa e recusar a bebida e enfrentar a pressão. Ensine a ele ou a ela que isso não será “pagar um mico”, mas um ato de muita bravura e personalidade. Menino macho mesmo pode ser aquele que tem coragem de não beber com a turma. Menina de cara limpa é mais valorizada do que cheirando a vômito.

Temos que impedir que essa geração de jovens maravilhosos, inteligentes, se torne uma geração de adultos dependentes, sequelados, desmemoriados, lesionados ou drogados pelo álcool.

O futuro do mundo e das próximas gerações depende deles.


Disciplina dentro de casa: mantenha o controle, mas não perca a calma

Entender alguns sentimentos de estresse que os pais projetam sobre seus filhos é um assunto importante e que recebe pouca atenção, de uma forma geral, das pessoas e da mídia. Um estudo sobre a efetividade de disciplinar os filhos usando de pequenas violências (puxões de orelha ou tapas leves) contra as crianças demonstrou a dificuldade que alguns pais têm em manter o controle sobre os filhos, especialmente em períodos de férias escolares, onde a convivência é maior.

Bob Montgomery, presidente da Sociedade Australiana de Psicologia (APS na sigla em inglês), afirma que é interessante que os pais, durante esse período, reconheçam o desafio de manter o estresse fora do ambiente familiar e prestem mais atenção em como controlar seus sentimentos e frustrações.

“Nessa época as crianças podem ser mais irritantes que o normal, pedindo coisas o tempo todo ou procurando chamar a atenção. Isso pode ser exaustivo e frustrante e alguns pais podem perder a cabeça mais facilmente com seus filhos. É possível usar estratégias para se acalmar antes de perder a paciência, como exercícios de respiração, conversar com amigos ou mesmo repetir frases positivas que ajudem a não se deixarem levar pela situação”, diz Montgomery.

Mesmo sair do ambiente para dar uma volta, ir tomar um copo de água, ou tocar um instrumento – para os mais hábeis – pode quebrar um círculo vicioso que levaria a um evento mais violento, físico ou psicológico, contra os filhos.

Punição é diferente de regras

Isso tudo porque uma série de estudos feitos pela APS mostra que a punição física contra o mau comportamento das crianças não funciona e há outros modos de tentar impor uma disciplina aos filhos.

“Usar punições físicas frequentes não propicia que as crianças aprendam a se controlar por si próprias”, afirma o estudo. Além disso, esse tipo de punição não ajuda a ensinar as crianças a diferença entre certo e errado.

O estudo também afirma que os tapinhas ou puxões de orelha deixam as crianças com medo dos pais, mas somente quando eles estão presentes. Se os pais não estão presentes, o nível de desobediência e mau comportamento dessas crianças costuma ser muito pior. E ainda: bater nos filhos também pode influenciar negativamente na qualidade da relação dos pais com as crianças.

Consequência lógica

Entre as dicas da APS para os pais está a necessidade de se ensinar aos filhos a noção de consequência lógica, através de regras. “Se você não se comportar, não terá sobremesa, como da outra vez”, por exemplo, é uma frase desse tipo de disciplina imposta dentro de casa. Castigos simples, que envolvam tirar certos privilégios – não deixá-los jogar videogame ou ver televisão por um tempo – e fazê-los ficar em seus quartos, para se acalmar após uma briga com o irmão, também são outras práticas que usualmente que funcionam muito bem.

O estudo também aponta que ser consistente na aplicação dessas regras é imprescindível. Outra coisa é deixá-las claras e, se possível, traçar – e porque não, escrever e deixar em um local visível – uma série de regras gerais de convívio familiar, elaboradas com a ajuda das crianças. O mais importante, diz o estudo, é ficar calmo: perder a paciência pode indicar, para os filhos, que eles controlam a situação.


Como ajudar as crianças a lidar com a rejeição social


Pesquisadores da Rush University Medical Center, dizem ter identificado três fatores que podem levar a rejeição social entre crianças. Os resultados apresentados em dois estudos, publicados no Journal of Clinical Child and Adolescent Psychology, são um passo crucial no desenvolvimento de testes científicos que podem ajudar nas estratégias para atenuar as dificuldades de adaptação dessas crianças.

As descobertas feitas pelos pesquisadores indicam que a habilidade para interpretar informações não verbais e reconhecer códigos de conduta na interação social, assim como responder adequadamente a estes, são a chave para ajudar as crianças a desenvolver habilidades que mantenham o círculo de amizades e evitem problemas de interação ao longo da vida.

Crianças que passam por eventos de rejeição social são mais propensas a ter problemas acadêmicos, largar a escola, se sentirem deprimidas ou ansiosas e têm grande inclinação a se envolver com drogas.

“A habilidade das crianças de desenvolver relações amigáveis é algo importantíssimo para seu bem estar”, diz Clark McKown, um dos autores do estudo. “Comparados a outros indivíduos que são melhores aceitos, aqueles que são socialmente rejeitados possuem um elevado risco de desenvolverem problemas com o ajuste social.”

Os estudos indicaram que algumas crianças (13% das entrevistadas na pesquisa) têm grande dificuldade de interpretar atitudes não verbais e códigos sociais. “Elas simplesmente não sabem identificar reações de desapontamento, não associam uma variação na voz à alegria ou mesmo conseguem identificar se é raiva ou tristeza a partir de expressões faciais”, diz McKown.

Outro grupo de crianças consegue identificar esses códigos, mas não possuem a habilidade de compreender os significados disso. E um terceiro fator que contribui para o isolamento social é a habilidade de racionalizar problemas de socialização.

“Esse terceiro grupo identifica os códigos, sabem o que significam, mas são incapazes de resolver problemas de relacionamento apropriadamente”, observa McKown.

Para ter uma boa interação social as crianças devem responder positivamente a esses três pontos: saber as regras que regem a socialização, reconhecer os sentimentos alheios e responder adequadamente à situação, ou seja, controlar seu próprio temperamento e ter um comportamento adequado naquela determinada situação (negociar a resolução dos problemas).

“Sabendo que esses três pontos principais contribuem para o isolamento social é possível criar um modo de medir essas habilidades e ajudar crianças com dificuldades em desenvolve-las”, afirma o pesquisador.

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