Generosidade: boas ações são contagiosas

Para aqueles que se espantam com atos de vandalismo em zonas de desastres, como os que vemos na TV durante os terremotos no Haiti e no Chile, não perca a esperança na humanidade: atos de bondade – como a generosidade e a cooperação – se espalham tão facilmente quanto os atos de barbárie. E apenas alguns indivíduos fazendo a coisa certa, já é o suficiente.

No estudo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, pesquisadores da Universidade da Califórnia (UC) dizem ter conseguido uma evidência científica de que o comportamento cooperativo é contagioso e se reflete em pessoas ao redor. Quando as pessoas são alvo de uma “bondade” elas repassam adiante, ajudando outras pessoas que não estavam envolvidas no ato original. Isso, dizem os pesquisadores, criaria um movimento em cascata que se alastraria na rede social de cada uma das pessoas ajudadas de alguma forma. A pesquisa foi conduzida por James Fowler, da UC, e Nicholas Christakis, da Escola de Medicina de Harvard.

No atual estudo, Fowler e Christakis mostraram que, durante um jogo de laboratório, se uma pessoa recebia uma quantia de dinheiro como forma de ajudá-la a lidar com determinada situação, ela passava a cooperar com outras pessoas em futuros jogos. O dinheiro, no caso, é um objeto passível de ser mensurado e acompanhado durante o jogo, mas que poderia ser substituído por outros atos de generosidade.

O que foi observado foi uma espécie de efeito dominó, em que a generosidade de uma pessoa se propagava, inicialmente, para três pessoas, e na sequência atingia praticamente nove pessoas (considerando os jogos futuros) e isso continuava enquanto os experimentos foram repetidos. É bom pontuar que os participantes escolhidos não se conheciam previamente.

O efeito é persistente, explica Fowler: “Uma pessoa pode ser egoísta. Mas como resultado, observamos que as outras pessoas que haviam sido foco da generosidade anteriormente cobriam a falta dos indivíduos egoístas, cedendo mais de seu dinheiro”. “O dinheiro servia como um financiamento para a continuidade de outras pessoas no jogo”, observa Christakis.

“Achamos que esse efeito multiplicador pode ser menor ou maior no mundo real, em relação ao que observamos no laboratório”, diz Fowler. “Nós tivemos contato com experiências de generosidade vendo as reações praticamente imediatas das pessoas, mas isso não é observável em nossas interações sociais diárias.” Além disso, o jogo experimental eliminou os fatores ambientais e as questões ligadas à reputação.

“Nosso trabalho, que examina a função das relações sociais e suas origens genéticas, nos leva a concluir que há uma profunda relação entre as interações com a malha social que interagimos e a generosidade. Afinal, essa malha social é importante para o ser humano por conta de seus diversos benefícios à sobrevivência da espécie e esse ritmo de distribuição de generosidade – seja em forma de ideias, amor e cuidados – contribui para que ela se mantenha ativa”, teoriza Christakis.

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com informações da University of California


Pesquisador comenta alguns mitos em Psicologia

As pessoas adoram ler sobre Psicologia, mas a grande maioria das informações disponíveis e repercutidas na mídia nem sempre tem validade científica.


“Há um monte de informação, mas boa parte do que se vê por aí é bastante errônea”, diz Scott Lilienfeld, psicólogo e pesquisador da Universidade de Emory, nos EUA. Uma das mais populares teorias é aquela que diz que as pessoas usam apenas 10% do potencial do cérebro, apesar dos pesquisadores no mundo todo indicarem que os indivíduos usam boa parte do órgão mesmo para executar tarefas simples. Uma pesquisa de opinião americana chegou a constatar que 59% de pessoas com nível universitário acreditam nessa teoria.

“Existe até mesmo a possibilidade de ideias como essas serem comprovadas cientificamente”, diz Lilienfeld, “mas a maioria esbarra em erros já discutidos em diversos trabalhos científicos de altíssima qualidade.”

Alguns mitos que fazem parte do senso comum:

• “Somente pessoas deprimidas cometem suicídio.”

Uma pesquisa publicada em 2007 no periódico Current Opinion in Psychiatry (Vol. 20, Nº 1) diz que na verdade entre 13% e 41% das pessoas que cometem suicídio poderiam ter sido classificadas como depressivas. A variação nos números indica a falta de dados concretos dessa informação, pois muitas vezes se tem acesso apenas à descrição de terceiros sobre os atos anteriores da pessoa que cometeu suicídio.

O abuso de álcool e outras drogas, a esquizofrenia, transtorno do pânico, fobia social, transtornos da identidade de gênero e transtorno da personalidade borderline também podem levar ao pensamento e ao ato suicida. O indicativo desse tipo de problema, independentemente do diagnóstico para qualquer um dos transtornos citados acima, é a falta de esperança constante nesses indivíduos.

• “Úlceras são o reflexo de estresse.”

Mais de metade dos americanos que participaram de uma pesquisa em 1997 acreditava que o estresse era responsável pelo desenvolvimento de úlceras estomacais. “Sabe-se que as úlceras são causadas por uma bactéria chamada H.pylori. O estresse pode piorar esse quadro clínico, mas não causá-lo”, explica Lilienfeld.

• “Inteligência é genética.”

Essa é uma “pegadinha”, diz Lilienfeld. O problema com a afirmação passa por questões genéticas, que contribuem para determinadas características dos indivíduos, mas há um erro inerente nesse tipo de lógica: acreditar que os genes são os únicos responsáveis por um determinado traço de personalidade de algumas pessoas. Aliás, uma simples mudança no que se está procurando – formular uma questão sobre o que deve ser observado – pode mudar os resultados desse tipo de coleta de dados.

Tome como exemplo a variação do Q.I. (coeficiente de inteligência): se vivemos em uma sociedade perfeita em que todos têm acesso ao ensino de qualidade, poderíamos afirmar que uma determinada herança genética pode gerar indivíduos com inteligência acima da média sempre. Isso porque não há variáveis ambientais.

Um determinado indivíduo pode ter facilidade acima da média em matemática, mas nunca ser apresentado à matemática, por exemplo. “As pessoas acreditam que um traço genético seja necessariamente ativado, mas na verdade essa efetividade da herança genética pode esbarrar em variáveis sociais”, diz o pesquisador.

• “O único modo de tratar o alcoolismo é com a abstinência.”

Apesar de essa ser a base do programa de intervenção dos Alcoólicos Anônimos, o pesquisador aponta que outros tipos de estratégias que ensinam essas pessoas a beber socialmente e manter o controle podem ser efetivas. O resultado é de outra meta-análise feita em 1999 e publicada no periódico Journal of Counseling and Clinical Psychology (Vol. 67, Nº 4).

“Mas não é o tipo de estratégia que funciona com todos”, alerta Lilienfeld. “Pessoas com um longo histórico de abuso de bebidas alcoólicas e problemas psicológicos podem não conseguir atingir os objetivos desse tipo de intervenção.”

• “Olhar para as pessoas e traçar perfis criminais exatos que possam prevenir crimes, como nos filmes e séries de TV.”

Uma meta-análise – revisão de diversos trabalhos científicos com temas similares – feita em 2007 (publicada no periódico Criminal Justice and Behavior, Vol. 34, Nº 4) diz que a maioria das previsões de ações baseadas em perfis de criminosos feitos por psicólogos é tão efetiva quanto aquelas feitas por pessoas comuns, sem nenhum conhecimento de Psicologia.

Uma pessoa bem informada sobre um crime específico, razoavelmente inteligente e com acesso a dados demográficos pode fazer inferências sobre um suposto criminoso tão boas quanto a de profissionais forenses. “Um programa de computador bem afinado pode fazer o trabalho tão bem e mais rápido do que as pessoas encarregadas desse tipo de análise”, diz Lilienfeld.

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com informações da American Psychological Association

Nos dias atuais a psicologia utiliza-se de métodos mais científicos e objetivos para entender, explicar e predizer o comportamento humano. Os estudos psicológicos são altamente estruturados, começando com uma hipótese que é, então, empiricamente testada. A Psicologia tem duas áreas principais: psicologia acadêmica (focada no estudo de diferentes sub-tópicos da psicologia, incluindo personalidade, psicologia social, psicologia do desenvolvimento. Estes buscam expandir nosso conhecimento teórico) e psicologia aplicada (Foca no uso de diferentes princípios psicológicos para resolver problemas do mundo real. realiza pesquisa aplicada que busca soluções para os problemas diários). Exemplos de áreas da psicologia aplicada incluem psicologia forense, ergonomia e psicologia organizacional/industrial. Muitos outros psicólogos trabalham como terapeutas, ajudando as pessoas a superar problemas mentais, de comportamento e emocionais.

Métodos de Pesquisa em Psicologia

Ao passo em que a psicologia se distancia de suas raízes filosóficas, ela começa aplicar mais e mais os métodos científicos para estudar o comportamento humano. Atualmente, os pesquisadores aplicam uma variedade de métodos científicos, incluindo experimentos, estudos correlacionais, estudos longitudinais, e outros para testar, explica e predizer o comportamento.

Áreas da Psicologia

Psicologia Clínica-A Psicologia é um campo muito amplo e diversificado e com o passar do tempo vimos emergir diferentes sub-campos e especializações na área psicológica. Abaixo seguem as principais áreas de pesquisa e aplicação dentro da Psicologia.

Psicologia do Anormal - É o estudo do comportamento anormal e das psicopatologias. Aqui o principal foco é a pesquisa e o tratamento de uma ampla gama de distúrbios mentais e está ligada à psicoterapia e psicologia clínica. Os profissionais de saúde mental geralmente utilizam o CID-10 e o DSM-IV para diagnosticar distúrbios mentais.

Psicologia Biológica (Biopsicologia) - Estuda como os processos biológicos influenciam a mente e o comportamento. Esta área está fortemente ligada à neurociência e utiliza ferramentas como o MRI e PET scans para procurar por danos ou anomalias cerebrais. – Focada na avaliação, diagnóstico e tratamento de distúrbios mentais.

Psicologia Cognitiva - é o estudo do processo de pensamento e cognição. A psicologia cognitiva costuma estudar tópicos como atenção, memória, percepção, tomada de decisão, solução de problemas e aquisição da linguagem.

Psicologia Comparativa - ramo da psicologia relacionada ao estudo do comportamento animal. O estudo do comportamento animal pode levar a um entendimento mais amplo e profundo da psicologia humana.

Psicologia do Desenvolvimento - ramo da psicologia que pesquisa o desenvolvimento e progresso humano ao longo da vida. Suas teorias são focadas no desenvolvimento de habilidades cognitivas, morais, funções sociais, identidade e outras áreas relativas a vida.

Psicologia Forense - é um campo aplicado no uso das pesquisas e princípios da psicologia no sistema legal e criminal de justiça.

Psicologia Industrial-Organizacional - é a área da psicologia que usa pesquisa psicológica para aumentar o desempenho no trabalho, selecionar empregados, melhorar o design de produtos e melhorar a usabilidade, entre outros.

Psicologia da personalidade - pesquisa os vários elementos que formam a personalidade individual. As mais conhecidas teorias da personalidade incluem o modelo estrutural de personalidade Freudiano e o modelo dos cinco grande tipos (Big Five).

Psicologia Escolar - ramo da psicologia que trabalho dentro do sistema educacional para ajudar crianças com problemas emocionais, sociais ou acadêmicos.

Psicologia Social - é uma disciplina que use métodos científicos para estudar a influencia, percepção e interação social. A Psicologia social estuda diversos assuntos incluindo comportamento de grupo, percepção social, liderança, comportamento não-verbal, conformidade, agressão e preconceito.

William James nasceu em Nova York em 1842, e faleceu em 1910, em sua casa de campo na cidade americana de Chocoronua.

Entre 1865 e 1866, aos 23 anos, acompanhou o naturalista Louis Agassiz na Expedição Thayer ao Brasil. Nos oito meses de estadia no país, passados principalmente no Rio de Janeiro e na Amazônia, James rascunhou um diário, e produziu desenhos de cenas da expedição, que expressam uma consciência crítica e um distanciamento moral da idéia colonialista que norteava a norteava.

Depois seguiu para a Alemanha e estudou filosofia na Universidade de Berlim, entre 1867 e 1868. No ano seguinte, conseguiu a graduação em medicina em Harvard, tornando-se professor de fisiologia e anatomia a partir de 1873, e depois, de psicologia e filosofia, na mesma universidade. Como filósofo, foi responsável por aquela que é considerada a maior contribuição americana à filosofia: o pragmatismo.

É possível dividir a obra de William James em dois momentos: um psicológico (que vai da década de 1870 à de 1890) e outro filosófico (a partir de 1890)

O primeiro período tem como marco inicial a criação de um pequeno laboratório de psicologia em 1875 na Universidade de Harvard; e o seu primeiro curso de psicologia, sobre “As relações entre a fisiologia e a psicologia”.

Nesse período o ponto culminante de sua produção teórica é a publicação, em 1890, após 12 anos de elaboração minuciosa, de O Principio de Psicologia. Nesse tratado (com mais de mil páginas) encontram-se as principais idéias de James sobre tópicos tais como o “hábito”, “atenção”, “fluxo de pensamento” e “self”.

James interroga os limites daquilo que é chamado de “self”, “eu”, “ego” (não faz distinção conceitual entre os termos), em oposição ao mundo circundante. Para James, o “eu” é apenas “o nome de uma posição”; uma espécie de perspectiva individual privilegiada a partir da qual o mundo é medido em suas distâncias. E ele concebe tais distancias em função das ações individuais sobre o ambiente. A consciência implica um tipo de relação externa; não é um tipo especial de substância ou de modo de ser.

James constrói uma noção de “eu” caracterizada por certa fluidez: sem limites estabelecidos previamente e com as referências básicas de tempo e espaço definidas em função de suas ações sobre o ambiente. (Ferreira e Gutman, 2005).

Em The Principles of Psychologie, James (1890) diz que a consciência não se apresenta para ela mesma, cortada em pequenos pedaços. Palavras tais como “cadeia” ou “sucessão” não a descrevem adequadamente, tal qual ela se apresenta em primeira instância. Ela não é algo agregado; ela flui. Um “rio” ou um “fluxo” são as metáforas pelas quais ela é mais naturalmente descrita.

A consciência teria como propriedades básicas: a pessoalidade; o seu aspecto mutante; a continuidade; a referência aos objetos; o seu aspecto seletivo.

Sobre “hábito” há três tópicos principais: primeiro o destaque dado a sua base física ou neurofisiológica e sua participação tanto nos limites do aprendizado de novos hábitos como a modificação de hábitos antigos; segundo, a apresentação do hábito como uma versão possível das ações adaptativas de um organismo em referência a um meio; terceiro, a possibilidade de alteração dos hábitos pela ação voluntária e os efeitos éticos-morais a ela correspondentes.. (Ferreira e Gutman, 2005).

James diz que o hábito adquirido, do ponto de vista fisiológico, é nada mais do que uma nova via de descarga formada no cérebro pela qual, desde então, certas correntes aferentes tendem a seguir. Ele revela a posição darwiniana ao destacar a utilidade adaptativa do hábito; e a importância para um organismo da aquisição e manutenção da habilidade, ou capacidade de fazer a atenção consciente repousar. Deixando a cargo do habito toda uma série de atividades mais ou menos cotidianas ou banais, embora fundamentais à manutenção da vida diária, o organismo reserva à vida mental, plenamente consciente, outras tarefas e esforços.

Ferreira e Gutman (2005) destacam que os conceitos de self, fluxo de pensamento e hábito fornecem indicações teóricas suficientes para a sustentação da importância de James para o funcionalismo. Na obra de James o foco está sempre colocado sobre a função e não sobre as supostas “propriedades” de um organismo dotado de psiquismo. Em sua perspectiva, o que o organismo é ou deixa de ser, decorre das funções que exerce e das interações com um dado ambiente.

O pragmatismo de William James

Para James o pragmatismo seria primeiramente um método, e em segundo lugar, uma teoria genética do que se entende por verdade. Em seu primeiro sentido significa a atitude de olhar além das primeiras coisas, dos princípios, das “categorias”, das supostas necessidades; e de se procurar pelas últimas coisas, frutos, consequências, fatos. O pragmatismo atuaria de forma a extrair de cada palavra o seu valor de compra prático, pô-la a trabalhar dentro da corrente da experiência. Desdobra-se como um programa para mais trabalho, e mais particularmente como uma indicação dos caminhos pelos quais as realidades existentes podem ser modificadas. As teorias tornam-se instrumentos e não respostas aos enigmas, sobre os quais se pode descansar.

William James creditou a origem do termo pragmatismo a Charles Peirce (1839-1914). Mas para Peirce o pragmatismo visava apenas extrair as “regras de conduta”, ou ações presentes nos diversos conceitos. Sendo assim, a primeira forma do pragmatismo estava ligada à noção de verdade como consenso último de todos os preocupados na busca da verdade. A realidade, portanto, seria o objeto resultante dessa opinião partilhada. Para James, representava o estudo das modificações na experiência trazidas pelas teorias, em especial as metafísicas e religiosas.

Da perspectiva de James, as teorias filosóficas serviriam como meio de orientar a pesquisa para os seus resultados finais e não para os seus princípios. Desse modo, também as teologias seriam passíveis de ser consideradas verdadeiras. O critério de verdade pragmático seria aquele que permite adaptar o que se tem por verdadeiro com cada aspecto da existência, em relação com todas as outras experiências vividas, formando um todo orgânico. Assim, as diversas crenças que compõem a mente de uma pessoa teriam reduzidas suas divergências, a ponto de se aproximarem ciência e religião, nos casos mais extremos. “O pragmatismo de James, em sua característica funcionalista, tornava a função de verdade subjetiva e sua justificação da religião voltada à satisfação pessoal de cada um.” (Silva, 2008).

(...) Se as idéias teológicas provam que têm valor para a vida concreta, são verdadeiras, pois o pragmatismo as aceita, no sentido de serem boas para tanto. O quanto serão verdadeiras, dependerá inteiramente de suas relações com as demais verdades, que têm também, de ser reconhecidas (JAMES, W. Pragmatismo, II conferência, p. 44-45).
Ainda que o objeto da psicologia se assemelhe bastante ao da psicologia alemã, a experiência passa a ser vista a partir de uma nova questão (a adaptação), através de métodos diversificados que fogem da introspecção controlada.
A psicologia funcionalista surge nos Estados Unidos em oposição à psicologia titcheneriana. É representada por autores como J. Dewey, (1859), J. Angel (1869-1949) e H. A. Carr (1873-1954).

Os princípios funcionalistas se converteram em escolas no final do século XIX, e justamente em duas das mais novas universidades americanas: Chicago e Columbia. Nessas escolas marca-se o que se pode designar como orientação funcionalista propriamente dita. A escola de Chicago com Dewey, Angell e Carr e a de Columbia com Thorndike e Woodworth.

Angell coloca em chegue qualquer possibilidade de uma psicologia estruturada em elementos mentais. O aspecto estrutural do psiquismo deve ser buscado não nos seus supostos elementos, mas nas funções, atos ou processos mentais. A psicologia deve reconhecer em sua analise estrutural não os elementos como sensações, sentimentos, mas atos como julgar, perceber, recordar. Para Angell a psicologia se torna mais funcional do que a biologia, pois não apenas o funcional precede e produz o estrutural, como também ambos representam duas faces de um mesmo fato.

A escola de Columbia toma a adaptação em sentido mais comportamental e ancorado em aspectos motivacionais. Thorndike, em seus experimentos sobre a inteligência animal, não supõe mais a solução dos problemas como governada por uma consciência selecionadora de respostas, mas um conjunto casual de respostas que são selecionadas por seus efeitos de satisfação. Esta é sua clássica Lei do Efeito. Ao substituir a consciência pelo acaso, não apenas adequa o seu modelo ao darwinismo, como abre caminho para o behaviorismo. “Aqui o ajuste do organismo ao meio se realiza através de um conjunto de mecanismos casuais, mecânicos e possíveis de controle, concedendo, portanto, plenos poderes aos psicólogos, enquanto engenheiros da conduta.” (Ferreira e Gutman, 2005, pág. 136).

Os psicólogos funcionalistas definem a psicologia como uma ciência biológica interessada em estudar os processos, operações e atos psíquicos (mentais) como formas de interação adaptativa. Partem do pressuposto da biologia evolutiva, segundo o qual os seres vivos sobrevivem se têm as características orgânicas e comportamentais adequadas a sua adaptação ao ambiente.

Consideram as operações e processos mentais (como a capacidade de sentir, pensar, decidir, etc.) o verdadeiro objeto da psicologia, e o estudo desse objeto exige uma diversidade de métodos. Não excluem a auto-observação, embora não aprovem a introspecção experimental no estilo titcheneriano, porque esta seria muito artificial. Não confiam totalmente na auto-observação, dadas as suas dificuldades científicas: é impossível conferir publicamente se uma auto-observação foi bem feita e, por isso, é difícil chegar a um acordo baseado em observações desse tipo.

Considerando a adaptação como a função última da consciência, então serão as funções e não os elementos mentais que devem ser alvo de investigação. Figueiredo e Santi (2004) destacam que apesar do movimento funcionalista como um movimento à parte e independente ter se dissolvido, várias das idéias fundamentais dessa escola estão presentes em muito do que se faz até hoje no campo da pesquisa psicológica.

“Na verdade, a maior parte do que se produziu e se produz no campo da psicologia, entendida como ciência natural, pode ser interpretada como diferentes versões do pensamento funcional.” (Figueiredo e Santi, 2004, pág. 65).

Na abordagem funcionalista a adaptação não se refere a um processo filogenético, mas antes de tudo, ontogenético, ligado à adaptação individual. O conceito de adaptação deixa de expressar uma relação de sobrevivência em um meio, e passa a significar uma “melhor vivência neste”, tornando-se, pois, um conceito qualitativo. Essa melhor vivência, esse equilíbrio, não se refere apenas a um meio físico, mas antes de tudo, a um meio social. Estar adaptado é antes de tudo estar ajustado às demandas do meio social, sejam elas quais forem.

Ferreira e Gutman (2005) relatam que a necessidade de estar conforme ao meio social justifica-se pela extrapolação de um conceito biológico a um significado social. É confiando no valor deste conceito que os psicólogos em sua prática zelarão pelo “equilíbrio social”. E a psicologia funcional não se interessa apenas pelo estudo da adaptação. Ela deseja igualmente se transformar em um instrumento de adaptação, promovendo-a. E isto ocorre graças à postura pragmatista, na qual o valor de um conhecimento está calcado em suas consequências práticas.

E desta forma o conhecimento psicológico deve se mostrar vital. Só que a utilidade buscada não diz respeito ao indivíduo, mas à sociedade como um todo. O meio social não é apenas regulador, mas também finalidade da adaptação. A adaptação psicológica visa ajustar a sociedade a si própria, através do manejo dos indivíduos, especialmente os desadaptados.

“O psicólogo entra nesse contexto como um engenheiro social da utilidade, buscando promover à moda UTILITARISTA, o maior bem possível. Transforma-se assim a utilidade individual em patrimônio social.” (Ferreira e Gutman, 2004, pág. 137)

Os pais intelectuais da psicologia foram, sem dúvidas, a filosofia e a fisiologia. Apesar do interesse comum pelas questões relacionadas a interação mente-corpo, sensação-percepção, cada uma destas ciências tinha interesse muito voltado para sua respectiva área. Foi então que o alemão Wilhelm Wundt mudou este ponto, tornando a psicologia uma disciplina independente.

O período foi extremamente favorável, Wundt foi o homem certo no lugar certo: as universidades alemãs se encontravam em um período de expansão e haviam subsídios disponíveis para novas disciplinas, além do mais, o clima intelectual era bastante favorável à abordagem que Wundt advogavam suas propostas foram bem recebidas pela comunidade acadêmica e em 1879 houve a criação do primeiro laboratório formal para pesquisa em psicologia na Universidade de Leipzig. E então em 1881 Wundt lançou o primeiro jornal voltado à publicação de pesquisas em psicologia.

Wundt é o fundador porque ele casou a fisiologia com a filosofia e fez seu resultado (filho) independente. Ele trouxe os métodos empíricos da fisiologia para as questões da filosofia” (LEAHEY, Tomas - 1987, p 182)

A concepção de psicologia de Wundt dominou o campo por duas décadas e influenciou muitas outras. Mas e qual era o objeto de estudo desta nova ciência? Para Wundt este objeto era o ‘Consciente’, a consciência da experiência imediata.

Wundt então pesquisou incansavelmente por métodos tão científicos quanto os das ciências naturais para estudar a ‘experiência consciente’. E este trabalho duro, aliado a suas idéias provocantes logo lhe renderam seguidores, jovens estudantes interessados nas suas pesquisas.

Muito dos estudantes de Wundt criaram seus próprios laboratórios de psicologia e atraíram estudantes. Um dos estudantes de Wundt, G. Stanley Hall, foi particularmente importante para o rápido desenvolvimento da psicologia na América. Foi o primeiro na América, fundou o primeiro laboratório de pesquisa em psicologia na Universidade Johns Hopkins (1883), em 1891 ele lançou o primeiro jornal Americano de psicologia e em 1892 ajudou a fundar a APA - Associação Americana de Psicologia, sendo seu primeiro presidente.

No sentido etimológico, a,psicologia seria a ciência da alma ou o estudo da alma. Teles (2003) define a psicologia como a ciência que busca compreender o homem e seu comportamento, para facilitar a convivência consigo próprio e com os o outro. “Pretende-se fornecer subsídios para que ele saiba lidar consigo e com as experiências de vida.” (pág. 9). Como destaca Figueiredo (2005) psicologia não existe no singular. O que há são inúmeras maneiras de conceber o campo do “psicológico” e outras tantas maneiras de se inserir nesse campo, intervindo nele, praticando “psicologia”.

Entre as maneiras de pensar o “psicológico” há mesmo quem pretenda descartar-se desta denominação e dar preferência a outros conceitos, como “conduta” ou “comportamento” entre os que se situam no campo do psicológico, há também os que pretendem fazer outra coisa que não “psicologia” como, por exemplo, “psicanálise”.

A psicologia é um conjunto de diversos domínios. Alguns psicólogos realizam pesquisa básica, alguns fazem pesquisa aplicada, e alguns prestam serviços profissionais. “A psicologia se desenvolveu a partir da biologia e da filosofia, com o objetivo de se tornar uma ciência que descreve como pensamos, sentimos e agimos.” (Myers, 1999, pág. 1). Em psicologia não há um acordo na metodologia, e não há uma terminologia comum; existe uma diversidade enorme de orientações teórico-metológicas.

O objeto de estudo da psicologia tem variado ao longo do tempo e sua pré-história confunde-se com a própria historia da filosofia. Antes de 300 a.C., o filósofo grego Aristóteles teorizou sobre temas como aprendizagem e memória, motivação e emoção, percepção e personalidade.

Para que se tenha noção da extensão do campo da Psicologia, eis algumas questões, apontadas por Teles (2003), que lhe são pertinentes:

  • Como aprendemos?
  • Como se dá o desenvolvimento físico, motor, emocional, social, intelectual da criança?
  • O que é a crise da adolescência?
  • Que fatores influem no desenvolvimento?
  • Que são emoções? Elas são inatas ou adquiridas?
  • Por que nos lembramos e esquecemos?
  • Como se desenvolve o pensamento?
  • Qual a ligação entre pensamento e linguagem?
  • Como se dá a resolução de problemas?
  • Qual a influência do grupo sobre os indivíduos?
  • Como se desenvolve a personalidade?
  • Como se dá percepção?
  • Quais são os fatores responsáveis pelos diversos tipos de retardamento mental?
  • O que motiva o comportamento?
  • Como explicar as diferenças individuais?
  • Quais as causas dos desvios de comportamento?
  • Como atuar sobre o desajustamento?
  • Qual a influência dos valores e das atitudes na percepção dos indivíduos?
  • Como estimular a criatividade das pessoas?

Segundo Campos (1996), a história da ciência psicológica vem mostrando que a atuação do psicólogo jamais é neutra e responde a demandas que se inscrevem em um contexto político, econômico, social e cultural, estando sujeita a suas especificidades.

O homem é um animal essencialmente diferente de todos os outros. Não apenas porque raciocina, fala, ri, chora, opõe o polegar, cria, faz cultura, tem autoconsciência, e consciência de morte. É também diferente porque o meio social é seu meio específico. Ele deverá conviver com outros homens, numa sociedade que já encontra, ao nascer dotada de uma complexidade de valores, filosofias, religiões, línguas, tecnologias. (Telles, 2003, pág. 19).

Zanella (1999) demarca que a diversidade e complexidade da atuação do psicólogo (afinal, são tantas as chamadas áreas de atuação: escolar, organizacional, do esporte, clínica, jurídica, comunitária, etc.), tem revelado cada vez mais inadequada a discussão sobre essas áreas de atuação tal qual vinha acontecendo, isto é, como áreas estanques, separadas, com arcabouço técnico e teórico delimitado. A autora defende que o local de atuação é demarcado, mas a atuação profissional deverá ser necessariamente múltipla, posto que, é assim que se caracteriza a realidade.

Não é o lugar que define a postura de um profissional – embora nem todos pensem assim – é antes a capacidade de refletir criticamente sobre teorias, métodos e práticas, avaliando resultados e pensando a acerca das necessidades do país em que nos encontramos. (Eizirik, 1988, pág. 33)

Só em uma época muito recente, surgiu o conceito de ciência tal como hoje é de uso corrente, e só a partir da segunda metade do século XIX surgiram homens que pretendiam reservar aos estudos psicológicos um território próprio, cujo êxito se fez notar pelos discípulos e espaços conquistados nas instituições de ensino universitário e de pesquisa. Só então passou a existir a figura do psicólogo e passaram a ser criadas as instituições voltadas para a produção e transmissão de conhecimento psicológico. (Figueiredo e Santi, 2004)

Para Teles (2003) acreditar que a psicologia deva ser ciência nos moldes daquelas que se baseiam principalmente no método experimental, seria empobrecê-la por demais. O ser humano tem reflexos, necessidades, impulsos, mas não instintos. A aprendizagem, que significa mudança de comportamento como resultado da experiência, será básica em todo o processo humano de ajustamento. “Ajustar-se significa aprender formas de comportamento que permitam ao indivíduo adaptar-se às exigências internas e externas que lhe são impostas.” (Telles, 2003, pág. 22)

Todos os grandes sistemas filosóficos desde a Antiguidade incluíam noções e conceitos relacionados ao que hoje faz parte do domínio da psicologia científica, como o comportamento, o espírito ou a alma do homem. Na Idade Moderna, físicos, anatomistas, médicos e fisiólogos trataram de diversos aspectos do comportamento involuntário e mesmo de comportamentos voluntários do homem. No século XIX começou a se constituir as ciências da sociedade, como a Economia, a Política, a História, a Antropologia, a Sociologia e a Lingüística. Essas ciências tratavam das ações humanas e de suas obras. Quando Gomide (1984) analisa a formação acadêmica em psicologia e suas deficiências, conclui que"não estamos formando profissionais capazes de construir a psicologia, mas apenas de repeti-la pois o estudante apenas aprende técnicas e busca o cliente para aplicá-las" (p. 74).

A reversão desse quadro requer que se eleja como princípio da formação profissional não só ensinar as técnicas, mas também discutir, criticar e analisar o porquê de elas se desenvolverem, em que época surgiram, para que propósitos serviram ou servem, ou seja, buscar retomar com o aluno o processo de desenvolvimento histórico da ciência com a qual vai trabalhar. A história como forma de apropriação do senso crítico.

A profissão de psicólogo esteve inicialmente ligada aos problemas de educação e trabalho. O psicólogo “aplicava testes”: para selecionar o “funcionário certo” para o “lugar certo”, para classificar o escolar em uma turma que lhe fosse adequada, para treinar o operário, para programar a aprendizagem, etc. Todas essas funções ainda são importantes na definição da identidade profissional do psicólogo; mas hoje, quando se fala em psicólogo, o leigo logo pensa no psicólogo clínico, e quem se decide a estudar psicologia quase sempre é com a intenção de se tornar um clínico. Embora durante muitos anos essa especialização nem existisse legalmente, atualmente é a principal identidade do psicólogo aplicado. (Figueiredo e Santi, 2004)

É cada vez mais freqüente que as teorias psicológicas se popularizem e sejam assimiladas pelo linguajar popular e que cada vez mais pensem a cerca de si e dos outros com termos emprestados das escolas psicológicas. E a psicologia popularizada, segundo Figueiredo e Santi (2004) tem servido para sustentar a palavra de ordem ‘cada um na sua, pensando os seus problemas e defendendo os seus interesses e a sua felicidade.’

Ao serem incorporadas à vida cotidiana de algumas camadas da população, “as psicologias” convertem-se quase sempre numa visão de mundo altamente subjetivista e individualista. Com isso, queremos dizer que mesmo as teorias psicológicas que não se restringem à experiência imediata da subjetividade individualizada, como a psicanálise, ao serem assimiladas pela sociedade, têm se tornado uma forma de manter a ilusão da liberdade e da singularidade de cada um, em vez de compreender e explicar o que há de ilusório nessas idéias. É assim que a psicologização da vida quotidiana tem nos levado a pensar o mundo social e a nós mesmos a partir de uma visão bem pouco crítica. (...) Certamente a tendência que tem mais crescido e aumentado seu mercado recentemente é a das “terapias de auto ajuda“. Numa mistura de concepções do senso comum ou baseadas em teorias psicológicas, em pressupostos humanistas sobre a liberdade do homem e num estilo de administração empresarial nitidamente comportamentalista, esse discurso (que soa como o de um pastor protestante americano, e isto é mais do que uma coincidência) prega um paradoxal reforçamento do “eu” com sua submissão a um conjunto de regras de gerenciamento da própria vida. (Figueiredo e Santi, 2004, pág. 87-88).

A psicologia não é apenas a ciência do bem-estar, tendo como ponto de referência uma sociedade bem comportada. Se a psicologia usa como parâmetros de normalidade e de ajustamento os valores da classe dominante, então ela é, também, um veículo ideológico.