Pesquisador comenta alguns mitos em Psicologia

As pessoas adoram ler sobre Psicologia, mas a grande maioria das informações disponíveis e repercutidas na mídia nem sempre tem validade científica.


“Há um monte de informação, mas boa parte do que se vê por aí é bastante errônea”, diz Scott Lilienfeld, psicólogo e pesquisador da Universidade de Emory, nos EUA. Uma das mais populares teorias é aquela que diz que as pessoas usam apenas 10% do potencial do cérebro, apesar dos pesquisadores no mundo todo indicarem que os indivíduos usam boa parte do órgão mesmo para executar tarefas simples. Uma pesquisa de opinião americana chegou a constatar que 59% de pessoas com nível universitário acreditam nessa teoria.

“Existe até mesmo a possibilidade de ideias como essas serem comprovadas cientificamente”, diz Lilienfeld, “mas a maioria esbarra em erros já discutidos em diversos trabalhos científicos de altíssima qualidade.”

Alguns mitos que fazem parte do senso comum:

• “Somente pessoas deprimidas cometem suicídio.”

Uma pesquisa publicada em 2007 no periódico Current Opinion in Psychiatry (Vol. 20, Nº 1) diz que na verdade entre 13% e 41% das pessoas que cometem suicídio poderiam ter sido classificadas como depressivas. A variação nos números indica a falta de dados concretos dessa informação, pois muitas vezes se tem acesso apenas à descrição de terceiros sobre os atos anteriores da pessoa que cometeu suicídio.

O abuso de álcool e outras drogas, a esquizofrenia, transtorno do pânico, fobia social, transtornos da identidade de gênero e transtorno da personalidade borderline também podem levar ao pensamento e ao ato suicida. O indicativo desse tipo de problema, independentemente do diagnóstico para qualquer um dos transtornos citados acima, é a falta de esperança constante nesses indivíduos.

• “Úlceras são o reflexo de estresse.”

Mais de metade dos americanos que participaram de uma pesquisa em 1997 acreditava que o estresse era responsável pelo desenvolvimento de úlceras estomacais. “Sabe-se que as úlceras são causadas por uma bactéria chamada H.pylori. O estresse pode piorar esse quadro clínico, mas não causá-lo”, explica Lilienfeld.

• “Inteligência é genética.”

Essa é uma “pegadinha”, diz Lilienfeld. O problema com a afirmação passa por questões genéticas, que contribuem para determinadas características dos indivíduos, mas há um erro inerente nesse tipo de lógica: acreditar que os genes são os únicos responsáveis por um determinado traço de personalidade de algumas pessoas. Aliás, uma simples mudança no que se está procurando – formular uma questão sobre o que deve ser observado – pode mudar os resultados desse tipo de coleta de dados.

Tome como exemplo a variação do Q.I. (coeficiente de inteligência): se vivemos em uma sociedade perfeita em que todos têm acesso ao ensino de qualidade, poderíamos afirmar que uma determinada herança genética pode gerar indivíduos com inteligência acima da média sempre. Isso porque não há variáveis ambientais.

Um determinado indivíduo pode ter facilidade acima da média em matemática, mas nunca ser apresentado à matemática, por exemplo. “As pessoas acreditam que um traço genético seja necessariamente ativado, mas na verdade essa efetividade da herança genética pode esbarrar em variáveis sociais”, diz o pesquisador.

• “O único modo de tratar o alcoolismo é com a abstinência.”

Apesar de essa ser a base do programa de intervenção dos Alcoólicos Anônimos, o pesquisador aponta que outros tipos de estratégias que ensinam essas pessoas a beber socialmente e manter o controle podem ser efetivas. O resultado é de outra meta-análise feita em 1999 e publicada no periódico Journal of Counseling and Clinical Psychology (Vol. 67, Nº 4).

“Mas não é o tipo de estratégia que funciona com todos”, alerta Lilienfeld. “Pessoas com um longo histórico de abuso de bebidas alcoólicas e problemas psicológicos podem não conseguir atingir os objetivos desse tipo de intervenção.”

• “Olhar para as pessoas e traçar perfis criminais exatos que possam prevenir crimes, como nos filmes e séries de TV.”

Uma meta-análise – revisão de diversos trabalhos científicos com temas similares – feita em 2007 (publicada no periódico Criminal Justice and Behavior, Vol. 34, Nº 4) diz que a maioria das previsões de ações baseadas em perfis de criminosos feitos por psicólogos é tão efetiva quanto aquelas feitas por pessoas comuns, sem nenhum conhecimento de Psicologia.

Uma pessoa bem informada sobre um crime específico, razoavelmente inteligente e com acesso a dados demográficos pode fazer inferências sobre um suposto criminoso tão boas quanto a de profissionais forenses. “Um programa de computador bem afinado pode fazer o trabalho tão bem e mais rápido do que as pessoas encarregadas desse tipo de análise”, diz Lilienfeld.

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com informações da American Psychological Association

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